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Uma laranja para Dalton

  • Foto do escritor: Mara Cornelsen
    Mara Cornelsen
  • 28 de jun.
  • 2 min de leitura

frutas laranja

Com aquele jeitão e de poucos amigos e o quase não falar ele parou na frente da minha casa, descascou uma laranja, comeu os gomos e deixou as cascas no muro. Não sei quando foi isso nem o quê Dalton Trevisan estava fazendo na praia (moro no Litoral). Sempre soube que o recluso escritor só saía de casa para coisas muito pontuais e necessárias, como, por exemplo, ir ao mercado.


Acordei assustada! Será que Dalton andou rondando por aqui? Sou uma sonhadora contumaz. Sonho todas as noites e quando acordo pela manhã lembro com detalhes de cada sonho. São coloridos, muito reais e cheios de diálogos.


Às vezes acho que tenho uma outra vida quando adormeço, tamanha a diversidade de assuntos que abordo com as mais diferentes pessoas e nos mais estranhos lugares. Pessoas e lugares que não fazem parte do meu dia a dia, que pudessem influenciar meu cérebro quando durmo. Tipo esta história com o "Vampiro de Curitiba".


Certo que ele estaria completando 100 anos este ano (faleceu no ano passado frustrando todas as comemorações que pudessem estar sendo programadas para o centenário) e por isso tem sido citado com certa frequência por colegas jornalistas e escritores. No entanto, nada tão intenso que justificasse sua passagem pelo meu subconsciente e ocupasse boa parte da minha noite por conta de uma laranja.


Explico melhor: não vi Dalton no meu sonho, só encontrei as cascas da laranja. Mas, sabia que ele estivera ali. Então, no sonho, decidi mandar fazer uma laranja de cimento para fixar no muro onde ele deixou as cascas. Contratei o rapaz que fazia uma obra na calçada da vizinha e ele se comprometeu a atender ao meu pedido, prometendo caprichar. Vale dizer que o rapaz era muito bonito e falava um português enrolado, com sotaque que denunciava sua origem estrangeira. Um imigrante com certeza.


Bem, não adianta aguçar a curiosidade para saber como ficou a pequena obra de cimento que serviria para alertar aos transeuntes que nosso grande escritor tinha passado por ali. A ideia, ainda no sonho, era colocar uma plaquinha de bronze revelando o motivo da laranja. No entanto, o sonho mudou de rumo, tão inesperadamente como surgiu. Nem eu sei se a singela homenagem teve fim!


Coisa de louco, né mesmo? Acordei com aquela sensação de serviço mal feito, de trabalho não finalizado. De história mal contada. Queria ter um final digno de Dalton para revelar. Não o tenho!


Para me redimir vou atrás de obras dele que ainda não li. Quem sabe adquiro um pouco mais de intimidade com o escritor e numa noite qualquer a história reaparece. Talvez com ele mesmo reclamando não a falta da homenagem, mas da possibilidade da existência dela. Todos sabemos que ele detestava este tipo de coisa. Sequer entrevistas gostava de dar. Mas, espero que tenha realmente gostado de laranjas.


Descanse em paz Dalton!

Fotografia de Dalton Trevisan
Imagem Google: Dalton Trevisan

1 Comment


Eliane Cornelsen
Eliane Cornelsen
Jun 28

Prima teus textos sempre me encantam com este teu modo de transmitir sonhos na realidade das palavras, em exprimir poesia do cotidiano, transluzindo, refletindo verdades com cores tão vibrantes, sobre o querido Dalton Trevisan, Avô da lindíssima Katiuscia Trevisan Cornelsen. Logo depois do passamento dele postei sobre ele na Pagina dos Cornelsen, mesmo ele não apreciando entrevistas e sendo realmente na dele, o mundo precisa conhece-lo e eu o que li dele, adorei. Único. Prima que otimo que recorda dos sonhos já eu nunca, e é uma perda imensa para mim, pois sonhar realmente nos transporta para um outro mundo, que privilegiada és. Parabéns também por isso. Reitero a admiração por teus textos e quando eu "crescer" quero escrever aos…

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