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Finitude

  • Foto do escritor: Mara Cornelsen
    Mara Cornelsen
  • 1 de set.
  • 2 min de leitura

O mês de agosto terminou. Graças a Deus!, diriam alguns. Foi um mês bem pesado, que nos colocou (pelo menos a mim) diante da nossa finitude. Não foram poucas as vezes que ouvi de diferentes pessoas a frase: "a única coisa que temos certeza nesta vida é que um dia vamos morrer". O fim é este, para todos. Ninguém fica para semente, mas mesmo assim, estranhamente, vivemos como se fôssemos eternos. Fazemos planos para o dia seguinte, para a outra semana, para o mês que vem e até para daqui há cinco ou dez anos.


Não sei se somos inconsequentes ou esperançosos. Nossos parentes e amigos sempre parecem eternos. Quando um se vai, abre-se um buraco de proporções gigantescas no peito. E dói. Dói muito. As emoções se misturam, da raiva à saudade, do amor ao ódio pela perda, da tristeza ao agradecimento por ter podido desfrutar daquela companhia. Não deveria ser assim. Deveríamos nos conformar. Mas, só alguém muito espiritualizado consegue viver esta realidade com mais compreensão e menos sofrimento.


Convivi com a morte durante toda a minha vida profissional. Como repórter policial comparecia a todos os locais de crimes, de acidentes e até de suicídios (embora estes nunca fossem divulgados por questão ética). Nunca foi agradável, porém em nome da notícia o enfrentamento desta realidade se tornava menos dolorosa. Era como se vestíssemos uma carapuça que nos protegia da dor e da própria morte.


Quando a aposentadoria chegou parece que a carapuça também se desfez e não me protege mais. Passei a ver o fim com outros olhos, mais sofredores, mais lacrimosos. E com a idade, nossa agenda de parentes e amigos também vai se limitando. É preciso retirar amizades do Facebook, limpar contatos no Whatsapp, reorganizar a vida sem algumas pessoas. E haja coragem para isso.


Costumo dividir a morte em duas categorias. A esperada e a não esperada. Explico melhor: a esperada chega para aquela pessoa que está doente há muito tempo, requer cuidados médicos permanentemente, precisa de atenção integral. E normalmente já tem idade avançada. É quando a família, para se confortar diz: descansou! Descansam ambos, a pessoa doente e a família cuidadora. E a não esperada, quando a pessoa está aparentemente bem e sofre um infarto fulminante; ou um acidente e não volta mais para casa. Esta sim, gera um inconformismo gigantesco, como se a gente não soubesse desde que nasceu que um dia o fim chegaria.


Este mês de agosto, em especial, foi muito sofrido. Perdemos três amigos em dez dias, de mortes inesperadas. Viraram lembranças, saudades e vazios. E a finitude veio nos esbofeteando, deixando marcas profundas e avisando que o amanhã pode não chegar. Ou pode ser tarde demais para o abraço, o telefonema, o pedido de desculpas, o brinde com o vinho predileto, ou o maravilhoso e curativo "eu te amo".


Uma mala de viagem sozinha num horizonte cor de rosa


1 comentário


Eliane Cornelsen
Eliane Cornelsen
02 de set.

Eu uso sem parcimônia o maravilhoso e curativo "eu te amo", uso muito mas quando realmente sinto e dizia toda noite ao pedir a bênçãos aos meus Pais e mal sabia eu que essas bênçãos me abençoariam em todos estes anos sem eles minha Mãe 37 anos e meu Pai 17 que partiram e nunca estaremos preparados para dizer adeus. Sou uma pessoa espiritualizada e por tudo no que creio fica mais simples mas ainda doe e a saudade é algo que diariamente surge em lembranças, na pergunta que ainda achamos que somente eles saberiam responder. Amo tanto e por amar penso que a vida é breve demais e nossos amores vão embora e como não sabemos quando chegara nossa…

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