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E a dona da zona virou baronesa

  • Foto do escritor: Mara Cornelsen
    Mara Cornelsen
  • 24 de ago.
  • 3 min de leitura

Trabalhar numa redação de jornal impresso sempre foi uma loucura. Uma "boa" loucura, mas mesmo assim altamente estressante, especialmente por conta dos horários apertados para a confecção e entrega do material a ser publicado. Falo aqui das redações antigas cheias de jornalistas formados e diplomados, que brigavam pela notícia, depois pela manchete e por fim por um espaço na primeira página (ou "prima dona" como a gente costumava chamar). Hoje estas redações não existem mais, infelizmente. Tudo ficou meio pasteurizado, tipo sala de hospital, com poucas pessoas e um silêncio que chega a incomodar.


A turma de antigamente trabalhava na barulheira e em meio a espessa fumaça de cigarros. Quase todo mundo fumava. Depois, com a entrada dos computadores substituindo as velhas Remington, novas regras foram surgindo e até os cigarros foram banidos (pela saúde da galera, que se obrigava a ir fumar na garagem do prédio ou no pátio, se insistisse no vício). Aparelhos de tevê e de rádio ligados, barulhos diversos, chefes e editores gritando no ouvido que não se podia atrasar a edição e o cérebro queimando para produzir o melhor texto. Era o nosso dia a dia, nosso feijão com o arroz.


Esta aventura cotidiana para que a notícia chegasse da melhor forma ao leitor, clara e atrativa, exigia grande concentração do repórter e do editor e muita criatividade. Em grande parte das vezes o jornal impresso saía em desvantagem para com as rádios e tevês, que contavam com o imediatismo da informação. Por isso, no impresso a matéria tinha que ser mais completa.


Na primavera de 2005 a mais famosa cafetina o Paraná foi presa em Camboriú, pela Polícia Federal, onde havia se escondido após ser acusada de uma série de crimes, inclusive tráfico de mulheres para o exterior. Era dona de uma famosa chácara na periferia de Curitiba, frequentada por figurões do "high society", políticos, policiais, e outros endinheirados. Suas garotas eram as mais bonitas e todas se diziam universitárias.


Os ganhos da dona eram altos, mas o que mais lhe angariava respeito era uma misteriosa agenda onde constavam nomes, datas e gastos dos frequentadores. Bastava mostrar a agenda que conseguia os necessários favores de autoridades e afins para continuar com seu promissor negócio. Ocorre que "não há bem que sempre dure" e foi exatamente uma das garotas, enviada para os EUA, que acabou por denunciá-la à Policia Federal.


O caldo entornou e não teve agenda que desse jeito. Crime federal, muitas investigações e por fim a prisão. Com isso os jornalistas foram à loucura, buscando levantar todas as informações da conhecida figura, seus parceiros e etc... A Tribuna do Paraná, jornal mais popular de Curitiba (até hoje o é) não foi diferente. Seus repórteres capricharam nos textos, nas apurações de todas as versões, nos envolvimentos e até na agenda, mas esta nunca foi revelada.


Fim de noite, horário estourando para rodar o jornal e o título da página policial com a matéria editada não vinha. Sim, fazer título é uma arte. Fazer título sob pressão é um inferno. Tem número certo de caracteres (letras), tem que ser atrativo e inteligente. Nada se encaixava naquele espaço até que surgiu: "Presa a baronesa do sexo". Justo e perfeito. Do tamanho exato!


E foi assim que Mirlei de Oliveira, a cafetina curitibana, ganhou o título de baronesa. No dia seguinte todas as mídias a tratavam pelo apelido que lhe dei. Até William Bonner, no Jornal Nacional, ressaltou a "baronesa". Foi engraçado de ouvir. O título de nobreza dado pelo título da Tribuna foi tão bom que persiste até hoje. Duvida? Dá um Google aí e confere você mesmo!


homem lendo jornal impresso




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